Pesquisa personalizada

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre heróis e vilões

Um dos nomes de filme mais bacanas que vi até hoje foi: "Sobre Meninos e Lobos". É um nome simples, mas que manda um recado. Ele nos diz o assunto, e já o caracteriza em sua essência: o paradoxo. Além disso é um nome forte, provocativo, enfim. Mas eu gosto mesmo é do paradoxo. Hoje não vamos falar de meninos, nem de lobos. O assunto é outro paradoxo, heróis e vilões. Boa parte dos heróis tem seu lado negro, seu lado confuso, uma mente atormentada. Mas as pessoas não querem saber nadad disso. Só querem seus heróis, no mais alto grau de pureza.


Mas as pessoas também querem vilões. As vezes querem vilões mais do que querem os heróis. Claro, o vilão exige sentimentos mais fortes, queremos fritar o vilão, explodir ele. O vilão dá mais IBOPE do que o herói, sem dúvida. E uma das sociedades mais movidas a heróis da atualidade é justamente a mais poderosa da atualidade. Os americanos amam seus heróis. Os heróis americanos são diversos. Podem ser políticos emblemáticos (como o atual presidente), podem ser heróis de guerra, ou símbolos dos bons costumes. Chega a ser divertido observar essa necessidade americana, e tem um ótimo filme (que merece um artigo só para ele) que mostra uma boa dimensão desse necessidade americana. Dos seus símbolos de moral, bons costumes, e aquela ladainha toda pressionada pela sociedade pronta para explodir. "Beleza Americana" traz tudo isso. E agora a mídia se diverte com outro herói que virou vilão de um segundo para outro. A bola da vez não é qualquer um. Tiger Woods, um dos maiores jogadores de golfe da história, bom moço, exemplo típico de símbolo americano. Primeiro atleta bilionário da história, o "tigrão"do golfe se envolveu em um escândalo relacionado a amantes e viu seu bilionário castelo ruir. Perdeu patrocinadores, viu cancelado um projeto de condecoração no congresso americano, e foi massacrado pela mídia. O herói virou vilão imediatamente, largou o golfe "para se dedicar mais à família" e enfrenta a ira do povo conservador americano. A ira da mídia, que tem seu novo vilão vendedor de jornais, porque vilão vende mais, né? É claro que o cara não está certo colecionando amantes mundo afora, mas também não precisa passar de ídolo para inimigo número um da sociedade por cometer erros. E essa é a beleza americana, a hipocrisia dos certinhos. E aí que não é só dos americanos, é de todo o mundo, é de todos nós. Neste mundo maluco, onde ninguém resolve nada, onde somos liderados pela classe política (logo a menos confiável de todas as classes), neste mundo precisamos de heróis. Ou quem vai salvar o mundo em 2012? Queremos heróis. Mas não os queremos complexos, muito menos paradoxais. Queremos heróis perfeitos, modelos a prova de erros de conduta. Queremos. Não os temos, e nem os teremos. Mas é o que precisamos. E se não teremos, pelo menos queremos acreditar. E precisamos, até, acreditar.







Ninguém é herói o tempo todo. E talvez ninguém seja vilão o tempo todo. As vezes o herói é tão vilão quanto herói, ao mesmo tempo. As vezes é herói um tempo, e vilão em seguida. As vezes é menino, as vezes é lobo. E as vezes o menino aparece de dia, e o lobo durante a noite. E o mundo precisa dos dois. Um para bater, outro para ter fé.


We can be heroes, just for one day...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Enquanto isso, na sala de justiça...

Saudades eu tenho! Muitas saudades! Quando eu era bem pequeno, lá na Interiorlândia, um dos meus desenhos preferidos era a Liga da Justiça. Sim, sou do tempo que a gurizada tinha infância, brincava, via "filminhos"e até rodava de bikes pelas "pistinhas"da cidade. Então eu assistia a Liga da Justiça, desenho que reunia todos os super heróis daqueles inocentes tempos. Superman, Batman, Mulher Maravilha, Super Gêmeos e muitos, muitos outros. O desenho ia e voltava de um cenário para outro com uma chamada visual, sonora, e uma frase clássica, que nunca vou esquecer: "Enquanto isso, na Sala de Justiça..." e a cena ia para o quartel general dos super heróis. Lá eles traçavam suas estratégias, cada um com sua função, saiam e executavam o combinado e pronto, o mundo estava salvo! Que saudade dos Superamigos! Que saudade da Sala de Justiça! Que saudade da clássica frase... Porque eles não tinham interesses pessoais, ou da sua terra natal. O Batman não se preocupava em defender os interesses de Gotham City, nem o Superman de Kripton. Eles tinham uma só voz e um só interesse: Salvar o mundo!

E agora o mundo está em perigo. E logo no seu ponto mais crítico, o próprio planeta. No dia 18 de dezembro, está terminando a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que abrange 192 países. Os super heróis da nossa era, os que realmente mandam e determinam o futuro do mundo vão se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto. E é deles que dependemos. Eles estão lá, na Sala de Justiça, determinando o futuro do nosso planeta, portanto, o futuro da humanidade.

A grande questão sobre os nossos super heróis, é que eles não são superamigos. Nem entre eles, nem os países que eles representam, e o pior, não são superamigos da Terra. Então vai ser discutido muita coisa, e definido pouca coisa, e executado praticamente nada. Nada que realmente faça diferença. Porque eles são políticos, defendendo posições políticas individuais de seus países. Porque eles não estão defendendo o planeta. Estão defendendo seus interesses econômicos, e é por isso que nada vai acontecer. Hoje, com nossa evolução toda baseada em indústria e consumo sem grandes preocupações com o meio ambiente, cuidar do planeta é caro. Muito caro. E ninguém quer perder dinheiro. Dinheiro que não vai valer nada quando não tivermos mais planeta. Mas eles não acreditam nisso. E se acreditam, acham que não será agora, que viver isso é assunto pra um futuro distante, nem de seus filhos será. Os super heróis do nosso tempo não são heróis do planeta, eles lutam por interesses individuais, e após isso, se der para colaborar um pouco com o planeta, aí sim.

Então estão lá, todos eles, falando besteiras com discursos vazios, justificando sua falta de ação com mil desculpas e empecilhos, e nada acontecerá. A COP nem acabou, e eu já sei que nada irá mudar. E sei disso não porque tenho bola de cristal ou algo do tipo. Sei disso porque o conceito está equivocado. Ninguém foi para a Dinamarca salvar o planeta Terra. Todos foram para lá representar os interesses econômicos dos seus países. Pois bem. Azar deles, e infelizmente nosso também. Porque o planeta não conhece países, nem quem fez mais ou fez menos. A Terra vai cobrar a conta, e vai ser de todos. E aí, veremos muitos representantes de países, com bolsos cheios de dinheiro, em um mundo que o dinheiro mal serve como papel, e aí ficaremos todos com essa cara abaixo aí, olhando o mesmo que ele... Para nada! E o pior, não será sem saber o que fazer. Será com cara de sem ter o que fazer!




Saudades. Saudades da velha Sala de Justiça...

domingo, 13 de dezembro de 2009

E vai de cueca, e vai de meia...

Alguns anos atrás eu me incomodava. Juro que me incomodava. O sangue italiano subia, esbravejava, xingava, discursava... Depois, como nada ia fazer efeito algum, parava, me acalmava, e deixava para lá. As vezes registrava em algum artigo, aqui e ali. Mas o fato é que as coisas não mudaram. Ao contrário, as coisas pioravam. É na cueca, é na meia, sabe-se lá mais onde os vigaristas levam o dinheiro do povo para casa. O reino da falcatrua continua, os 300 picaretas com anel de doutor continuam, independente de quem está lá em cima. Entra P, saí D, é S e T, não importa a sigla. O dinheiro do povo vai embora.

É claro que tem maneiras divertidas de fazer isso. O que você prefere, ser roubado eletronicamente, com transferência lá para o paraíso suiço, ou alguma ilha com nome de passarinho, ou ver sua grana passear de cueca em cueca por aí? Será que os elásticos dessas cuecas são reforçados? O dinheiro é lavado depois? Lavado eu digo com água, né. Não a lavagem de dinheiro, a outra, que legaliza a grana suja. Não da saudade quando diziam: Tão lavando dinheiro! E você imaginava, opa, abriram uma boate, um puteiro, empresa de fachada, laranjas... Pois então, agora quando falam em lavagem de dinheiro, há de se ficar pensando se era aquela lavagem, ou se é na água mesmo, para tirar a nhaca da cueca. Ou da meia. Ou sei lá de onde o dinheiro tenha saído. Eu preciso ser sincero, não acredito mais em honestidade por aqui. E isso por algumas razões. A primeira delas é que essa situação corre o mundo. É uma condição humana de levar vantagem. Quando eu fico realmente muito alterado com alguma situação de roubalheira, eu imagino a seguinte cena: Homo sapiens sai para caçar. Mata uma capivara, corta um pedaço, bota no ombro e sai andando. Aí outro homo sapiens vê a cena, chega por trás, dá uma cajadada na cabeça do primeiro, e rouba o pedaço de capivara pronto. Então, quando quero me acalmar, penso que é da natureza humana passar o outro para trás. Daí me acalmo. Mas a segunda grande razão, a que me acalma mesmo, é olhar o povo. Esse povo sofrido, roubado, esse povo sem informação e tudo mais. Esse povo faz o que? Sim, porque pode ser sem informação, pode ser até analfabeto, mas se meter a mão no bolso do cara, ele vai saber. Ah vai! Então faz o que o povo quando a grana dele vai para a Suiça, ou dá uma banda na cueca alheia? Faz nada. Reelege os caras. Todos. Daí queremos cobrar o que? Se os caras fazem, e o povo coloca de volta? Vou eu ficar esquentando a cabeça? Não dá né! Então me acalmo. Agora, vamos combinar, meter a mão na grana, já até nem apavora mais ninguém, todos já estão anestesiados, e teve até uma pesquisa divulgada por aí, que relatava que mais de 70% da população poderia perdoar político que mete a mão... Mas na cueca? Na meia? Ora, por favor, vamos roubar com classe, já pensou se o Brasil acaba sendo o país onde lavar dinheiro significa água e sabão? Por favor senhores! Roubem com classe, respeitem o povo...



E já que o Brasil é criativo. E já que o Brasil é o país da bunda, alguem aí tem idéia de onde vai ser o próximo lugar que as crianças irão "colocar" o nosso dinheiro?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Churrasco no Maracanã?

No último domingo do campeonato, o futebol brasileiro viu de tudo. Viu time praticamente rebaixado sair do buraco, viu time que já comemorava título ficar fora do G4 (Libertadores), e viu churrasco no Maracanã. Mas o jogo era com o Grêmio, e o Flamengo ganhou, e foi campeão, então deu feijoada e não churrasco! Não é? Que nada, deu churrasco!

Em um desses caprichos da vida, o arqui-inimigo vermelho ficou na dependência do rival azul. E aí que o tricolor gaúcho ficou naquela situação em que se apresenta aquele sorriso maroto ao principal rival: Bah, no Maracanã lotado não tem como fazer churrasco de carioca... E a direção fala besteira, e jogador fala besteira, e acaba a gurizada tendo que resolver. Com medo de fritar titulares, e com mais medo ainda de ganhar o jogo, a direção tricolor manda para a cidade maravilhosa a gurizada olímpica. Com técnico (interino e promissor) com medo de levar uma sacola, e gurizada tranquila, o Grêmio entra em campo e assusta o Brasil todo. Vai para cima de um Flamengo todo borrado (como todos times que chegaram na ponta nesse campeonato), com medo de levar esse título. E tem gol, e é azul. E pela primeira vez na história colorados comemoram gol gremista enquanto a fanática torcida azul espragueja contra o próprio time. Eu sou do tempo que os colorados eram os maiores compradores de camisa do Brasil. Eles tinham camisas do Palmeiras, do Corinthians, do Ajax, do Nacional... Ora, nos bons tempos da década passada o Grêmio era o brutal time do sul que amassava os ricos clubes lá de cime. Ao Inter só restava secar, mero coadjuvante que era no cenário do futebol nacional. Que saudade daqueles tempos...

Dia 12 de dezembro 30 mil gremistas saudosos irão assistir ao poderoso time de 1995, aquele... A máquina tricolor que amassava seleção brasileira vestida de verde em pleno Palestra Itália, que tocava 5, que ganhava tudo que passava pela frente para desespero do país todo. E o país todo ficou esperando para ver, na "final"desse campeonato, se o Grêmio poderia cometer um crime parecido, com 85 mil pessoas assistindo ao vivo, e milhões na TV. Se fosse o time titular, que nunca perdeu em casa, e nunca ganhou fora (vamos deixar os Aflitos fora, afinal de contas, o palco da grande batalha não conta no mundo real...), não haveria chance. O Grêmio perderia e o Inter mais ainda. Mas era a gurizada. E guri é guri. Guri respeita essas coisas de trauma. Guri vai lá e toca horror, porque essa geração é assim mesmo. E a gurizada tocou terror, botou o Brasil todo de fraldas, inclusive a sua torcida. E no final, só não cometeu o crime porque sabia, mesmo que no subconsciente, que dar um brasileirão de graça para o Inter, era assinar a demissão no clube tricolor. Entregaram? Não. Não entregaram. Mas se o inverso fosse verdadeiro, e o Grêmio tivesse que ganhar do Mengo par ao Inter NÃO ser campeão... Ah se fosse assim, não tenho dúvidas... No mínimo aquele empate tinha permanecido. E tinha rolado churrasco no Maraca. Mas como a vida é bem caprichosa, o churrasco aconteceu de qualquer maneira.

Fiquei aliviado, fiquei feliz... Mas ainda assim fiquei com aquela sensação de ter dado uma de colorado... Deu a impressão de estar com a camisa do Flamengo, e aí o churrasco ficou sem sal...




segunda-feira, 23 de novembro de 2009

2012

Então, que Nós da Terra agora estamos todos preocupados. Após anos, décadas de avisos e mais avisos que ficaram no vazio, agora resolvemos nos preocupar. E é tudo culpa do cinema. Esse cinema... Caramba, esse cinema é fogo! Resolveu colocar pânico no mundo todo. Filme após filme, o cinema vem plantando o terror na população. Seja com "ficção", seja com documentários de previsões de Nostradamus, ou com o calendário Inca, ou com a posição das pirâmides do Egito... E não é que todos dizem a mesma coisa? E aí vem o cinema, e pronto. Planta o medo.

E os piadistas vão a farra. Tiram onda dos "profetas do apocalipse", dizem que não pagarão mais dívidas por que o mundo vai acabar... E 2012 é prato cheio para todo mundo. Veículos de comunicação, programas de humor, tudo é notícia e assunto. É o tema da moda. Mas nosso cinema, apesar de colocar o terror em todo mundo, até que fez a lição de casa. 2012, o filme, é bastante fiel às previsões que andam soltas por aí já a bastante tempo. Bastante mesmo, não aninhos ou décadas. Bastante mesmo. E veio o mar, e veio vulcão, e tremeu tudo e afundou quase tudo. Nem os monges tibetanos escaparam, todo mundo engoliu sal. Ou terra. Ou nem nada viu. Mas o cinema fez a lição de casa. Não inventou. Seguiu a receita. Não aniquilou o mundo, nem foi bonzinho demais. Sobrou o que sobrou, o que era possível sobrar, e que se reconstrua tudo depois que a turma que escapou puder sair da Arca de Noé Volume II. Mais um pouco poderíamos creditar à Nostradamus o roteiro do filme 2012.
As imagens são fascinantes, impactantes, assustadoras e rigorosamente previsíveis dentro do nosso quadro. Quadro? É, nosso quadro de aquecimento global. Ih, lá vem outro profeta do apocalipse. É. É prato cheio para os piadistas. Curiosamente, no dia que fui assistir a esse grande enlatado americano, a Capitolândia vivia uma noite quase rotineira nos últimos tempos. Se formava uma tempestade daquelas meio imprevisíveis, onde talvez metade do país apague, talvez metade das grandes cidades não possam usar carros para andar nas ruas, ou então, uma chuva de árvores ameaça os carros novos comprados com redução do IPI este ano. Por sorte naquela noite nem choveu mais de 50mm, mas o arroio que separa minha casa do cinema estava com água pelo ombro. Não chegou no pescoço, mas já estava no ombro.

Aí, que no outro dia fui trabalhar, era um dia bonito e quente. Mas assim, um quente meio estranho, do tipo sensação térmica de 40 graus, estranho para essa época do ano aqui na Capitolândia. E o meio dia virou meia noite. Tudo escuro, árvores voando, o fundamental ar condicionado deixando de funcionar (eles precisam inventar algum que não precise de energia elétrica...), o trânsito daquele jeito, né. Deu saudade. Deu saudade do tempo em que eu ia para o cinema ver esse tipo de filme apocalíptico e só lembrava dele na mesa do almoço, quando quem viu abria a sessão comentários de cinema. Agora não mais. Agora eu vi o filme, e lembrei dele quando ia para casa, em meio ao temporal que se ocorresse só as vezes seria normal, mas como aqui já é semanal... E lembrei dele também no outro dia, e não na mesa do almoço com o pessoal, lembrei quando as nuvens fecharam o meio dia, também com ocorrência já semanal... E aí que já me imaginei correndo em direção ao sino. O sino, aquele do monge tibetano que toca de colina em colina, alertando à todos o que de nada adianta ser alertado. Até porque, né... O alerta já vem de tanto tempo, e não foi ouvido. Porque então teria algum sentido ele ser ouvido agora? Para quem já viu o filme, o negócio é mesmo ir guardando 1 bilhão de euros, certo? Para quem não viu, ou acha um pouco complicado conseguir 1 bilhão de euros, pode começar a pedir carona em direção às montanhas chinesas...








Ah, esqueci de comentar. Destas imagens aqui publicadas, 3 delas não foram retiradas do filme 2012. Foram retiradas do filme da nossa vida. São reais, aconteceram, e como vocês mesmo podem concluir, em nada deixam devendo ao cinema.

Esse cinema né, fica botando terror nas pessoas, tsc, tsc, tsc...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando crescer, quero ser como Morgan Freeman

Uma noite dessas, enquanto encarava uma pizza jogado no sofá, estava olhando para a TV naquele momento: "Não estou prestando atenção, apenas faça barulho e se movimente para distrair minha mente..." Então uma curiosidade do cinema me chamou atenção: Um programa sobre personalidades do cinema trazia um especial sobre o ator Morgan Freeman. Ele começou muito novo em produções da Broadway, fez cinema desde cedo, mas chegou realmente ao topo do cinema já com seus 50 anos. Claro que todos conhecem o trabalho do Morgan, e muitos dos filmes que ele participou. Mas não foi a história da vida dele que me chamou a atenção.

No decorrer do programa, um ator mais novo deu um depoimento sobre o ator de "Todo Poderoso" que me fez sair da zona de conforto do olhar sem intenção e objetivo para a TV, e prestar atenção no assunto. Disse ele algo mais ou menos assim: "Foi incrivelmente intimidador trabalhar com o Morgan, e não por alguma postura de prepotência ou arrogância. É justamente pelo contrário. A postura dele é tão sóbria, serena, e ele uma pessoa tão tranquila de se trabalhar mesmo com sua importância... Que intimida!"

Isso tem absolutamente tudo a ver com estilo de vida, estilo de liderança no ambiente corporativo ou mesmo no posicionamento em grupos de amigos ou familiares. Em um momento em que boa parte dos líderes se usam do poder, de barganhas excusas, de promessas e outros fatores para manter seus seguidores alinhados, ouvir algo desse tipo é uma nuvem branca expulsando a tempestade. Um cara do porte que Morgan Freeman tem hoje, e logo nesse mundo de estrelas que normalmente tem a necessidade pessoal de brilhar mais do que as outras, ter um depoimento como o citado acima é a prova que nem tudo está perdido. Ainda existem pessoas do bem na multidão dos poderosos. Ainda existem pessoas mais interessadas em ajudar um todo a vencer do que se promover pessoalmente custe o que custar. E estamos falando do cinema, um dos grandes depósitos da prepotência humana. Quando tento projetar no meu modo de levar a vida, seja ela no profissional ou familiar, vejo que meu caminho está certo. Ainda longo, mas na direção correta. Não existem pessoas na escadaria que eu persigo no meu crescimento. Existem apenas desafios. Isso é bom. Boa parte não difere desafios e pessoas no seu caminho. Mas a maneira como ainda trabalho com os desafios podia ser mais leve, mais tolerante, mais conciliadora. Uma notícia boa portanto, na minha reflexão acerca do depoimento que tanto me chamou atenção, e uma constatação que é sabida, mas por vezes esquecida, de ser mais leve. De viver mais leve, e de tratar as pessoas e as questões que as envolvem com mais tranquilidade e serenidade. Não basta ser bom, é preciso ter muita paciência, muito jogo de cintura, porém sem deixar que a linha entre ser bom e ser bobo seja ultrapassada.Neste mundo cada vez mais individual, cada vez mais acelerado, onde as pessoas confundem outras pessoas com os obstáculos e desafios pessoais, precisaríamos de mais personalidades como Morgan Freeman. Uma estrela que brilha porque tem brilho simplesmente. Não porque ofusca o que está próximo.


Nosso desafio é sempre se aprimorar. Nossa obrigação é servir ao bem comum, é fazer o bem, é buscar o que é bom. A nossa busca pelo aperfeiçoamento pessoal é constante e nossa total responsabilidade, ou abriremos mão da evolução que nos cabe. E quando crescer, eu quero ser como Morgan Freeman!





terça-feira, 10 de novembro de 2009

A queda.


Quando se faz uso da expressão: "A queda", a imaginação de uma pessoa corre para dois acontecimentos históricos, e curiosamente os dois relacionados a Alemanha. E mais que isso, os dois relacionados entre si. "A queda" ilustra a derrocada de Adolf Hitler, e também remete com a mesma intensidade a lembrança da queda do muro de Berlim. Uma curiosidade interessante, para dois eventos de primeira grandeza na nossa história.

No dia 09 de novembro, foi celebrado com toda a pompa e circunstância que o evento merece, os 20 anos da queda do muro. Um absurdo acontecia nas guerras (que já são absurdas), de dividir o território derrotado entre os vencedores. Dizendo que as pessoas que fazem parte do país derrotado pertencem agora a outras pessoas que nada tem a ver com eles, os vencedores que estavam melhor armados, tomavam posse do território, e do povo. Isso aconteceu na Alemanha após a Segunda Grande Guerra. Inicialmente dividida em 4 partes, Berlim acabou dividida por um muro, construído do dia para a noite, totalmente policiado, que parecia estar dividindo inimigos mortais. Pois estava dividindo a mesma pátria, as mesmas famílias, numa das atitudes mais ignorantes da história em pról de interesses de governos. Uma agressão desproposital, sem nenhuma chance de ser explicada em momento algum da história da humanidade. Com valas, cercas elétricas, mais de 300 torres de vigilância, o muro era praticamente um presídio de segurança máxima, separando o mesmo povo. É claro que um absurdo dessa magnitude um dia cairia, e assim caiu, juntamente com o sonho ideológico do comunismo, dos países isolados, pseudo auto-suficientes, que de tanta prepotência terminaram isolados, falidos e trazendo o povo infeliz, preso no seu próprio território, impedido de saber, de viver, de viajar, de conhecer, e até mesmo de ser alguém diferente de um boneco de chumbo.

Ainda bem que tudo isso acabou, pelo menos nas questões físicas dessa divisão. Nas físicas, porque as gerações que viveram todo esse drama ainda circulam pelas terras alemãs agora sem muros de concreto, mas que talvez ainda tenham suas divisões... Por razões familiares, tenho contatos na Alemanha, e de certa forma consigo absorver alguns pontos da cultura atual, pós muro. Pós absurdo.
Um dos grandes eventos da celebração dos 20 anos sem muro, foi o show do U2, banda que o próprio nome sugere, tem toda uma sustentação e habilidade política, humanitária e de justiça nas entrelinhas, nas linhas, e nas ações do Bono. E o show foi criticado, por ter uma "cerquinha", que separava quem tinha ingresso (distribuído gratuitamente), de quem não tinha. Isso é algo que todo show precisa, por questões de organização e segurança. Mas psicologicamente teve um peso, principalmente pela fragilidade que ainda existe por lá, resultado daquela violência absurda da divisão de um mesmo povo.
A questão que abordei algumas vezes com os alemães que conheço, que já são da minha geração, e não participaram tão intensamente daquele absurdo todo, é que se a barreira realmente caiu. A física sim, dizem eles. Mas, a turma que foi submetida ao comunismo ainda sofre com os olhares silenciosos, e sim, ainda há diferença. Mesmo que nunca falada, mesmo que nunca exposta, o que pude perceber é que isso existe, e que talvez ainda perdure por algumas gerações.

Mesmo para a Alemanha, esse impressionante país que se reconstrói e volta mais forte cada vez que é destruído (e já foi por duas vezes), essa tarefa é ardua. O povo alemão das novas gerações já não tem aquele semblante pesado, aquela face sisuda que tanto tempo o caracterizou. As novas gerações são tão soltas quanto nós aqui, malucos brasileiros que não conhecem dificuldades (além dos políticos e da violência). Mas essa carga toda, esse muro invisível e silencioso ainda existe, por mais que seja negada a sua existência.

Frente às dificuldades que eles viveram, são até sorridentes demais. Concluo isso se tento me colocar no lugar deles, na Alemanha daqueles tempos. Pessoas com picaretas e martelos, abrindo caminho para sua própria vida, sua própria liberdade, para o direito fundamental e ir e vir, foi o que se viu no fim daqueles sombrios tempos. Hoje, já com o muro ao chão e um país rico e desenvolvido aquela agressão ainda tem reflexos, e assim será até que essas lembranças façam parte dos livros de história, assim será até quando as testemunhas e participantes daquilo tudo sejam lembradas como heróis ou anti-heróis, por que tem coisas que só o tempo resolve. Derrubar o muro era somente uma parte da mudança. Era um marco, para que as feridas pudessem começar a fechar. Agora sem muro, a cura está a caminho. Mas lentamente. E que não esqueça o mundo de tudo isso. Que não esqueça o que acontece quando um país resolve que não precisa de mais ninguém, que todos os outros são inimigos. Que essa lição, esse drama que a Alemanha viveu e ainda vive não se repita. Por mais rápido que muros e cercas possam ser derrubados, as consequências humanas disso perduram por gerações. E o que mais assusta, é ver uns e outros, bem aqui pertinho do nosso verde e amarelo, criando universos que muito se assemelham daquele absurdo todo...



sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A mulher na direção.

A mulher na direção.

Desde muito, talvez de sempre, que existem dois pré-conceitos com relação à mulher. (Eu sei, a palavra preconceito já existe, mas ela reflete melhor o significado dela sendo escrita de forma separada, explicitando o julgamento feito de forma precoce, ou sem propriedade). Um deles, "mulher no volante, perigo constante," é um fato até reconhecido pela maioria delas. E aí vem o outro, usado menos como piada, mas igualmente ativo até hoje. Mulheres em cargos de direção no ambiente de negócios.

Pois bem, os dois pontos são pré-conceitos reais, e também são fatos indiscutíveis. Não sou machista. Mas também não pago de defensor da igualdade onde ela não existe. No geral, as mulheres dirigem pior. Eu falei no geral. Mas na outra ponta a questão já não é bem assim. A mulher vem conquistando seu espaço no mundo dos negócios, e vai crescer cada vez mais nisso. Não há dúvida. E também não há dúvida que tem todas as ferramentas para isso. Essa igualdade será sim construída, a despeito dos antigos carrancudos que fumavam seu cachimbo enquanto dirigiam suas empresas, sem ao menos participar suas esposas do que acontecia. Cachimbo ainda não vi, mas charuto a mulher moderna já encara sim.

De fato ambos os assuntos já são amplamente discutidos, seja nas piadas de mulher no volante, seja nas sérias conversas sobre a evolução feminina nos altos cargos. Nesta semana, vivemos lá na empresa uma situação que me induziu a escrever sobre estes temas.

Estávamos saindo para o almoço boa parte do grupo gestor da empresa. Três caras e uma mulher. Ela, gerente de recursos humanos da empresa, alvo, portanto, de todo e qualquer tipo de pegação de pé relativo a comportamento dentro da organização. Como é uma empresa de serviço, e, acima disso, de conhecimento e inteligência, a importância da gerência de RH é vital para que tudo funcione. Vital mesmo. Então já temos o primeiro ponto: Uma das gerências mais importantes da organização é ocupada, e com propriedade, por uma mulher. Ponto para as mulheres. Mas até aí, nada de novo, nada de extraordinário pelo menos. Engraçado foi mesmo os 3 caras, evidentemente que como todo brasileiro apaixonados por carros, entrando no carro... Dela! Sim, ela é que tem carro mais apropriado para um almoço de negócios, dos 4 envolvidos. Sem abordagem das questão de valores de cada carro, o que estamos levantando é questão de posição corporativa. Então virou uma gargalhada geral, quando entramos todos, como caroneiros, no carrão preto cheio de pompa da nossa gerente, que vestia um traje rosa, e nos levou ao restaurante. Alguma coisa demais? Nada. Mas ainda assim é engraçado. E a cara dos manobristas do restaurante (que nos conhecem) confirma. Aquela cena antiga, das imagens dos carrancudos de negócios postados na sala ao lado regada a fumaça e whisky enquanto as esposas tricotavam acabou. Mas a cena da gerente de traje rosa, levando os três para o almoço, essa ainda impacta. Dois ainda usavam terno, ao que pareciam seguranças dela. Só faltando para isso que um fosse o motorista.

Para quem não acredita, a mulher está sim na direção. E mais, na direção correta. Seja em qual ambiente for. Ou tem algum cidadão aí que ainda prefere a mulher no tanque do que produzindo riqueza para a família? Mas apesar disso, algumas cenas ainda são curiosas, e tenho que admitir, boas risadas saíram daquele almoço, a nossa gerente rosa-choque que o diga...





Vai uma carona aí?

sábado, 24 de outubro de 2009

Computopia

Algumas previsões, entre tantas feitas, acabam se confirmando. A pequena imagem acima, tem 40 anos, e veio do Japão. 40 anos atrás, os japoneses vislumbraram a interação homem máquina, o avancó tecnológico controlado e a serviço da humanidade. Previsão ou delírio, boa parte se confirmou, ou está a caminho da confirmação. Estamos realmente evoluindo rápido com a robótica, com a inteligência artificial, e isso que nem temos a informação atualizada. Até pode ser paranóia minha, mas sempre imagino que estamos pelo menos 10 ou 20 anos defasados das descobertas de ponta. De ponta, eu quero dizer das pesquisas onde tudo realmente acontece, e certamente isso não é em laboratórios com endereço e CNPJ.

Deixando a paranóia de lado, é interessante ver uma previsão como essa, fazendo 40 anos de idade estar tão próxima da realidade. As vezes nos superamos em alguns fatores, talvez com alguma ajuda externa, talvez sozinhos, de qualquer maneira fica muito difícil saber alguma coisa aqui do lado de fora. Entende-se o que quero dizer com lado de fora, né? É fato que a ciência está voando rápido, nas questões que interessam, obviamente. Sim, porque a medicina só avança rápido mesmo em relação às doenças de massa, de grande volume de venda, de medicamentos. Nas de menor ocorrência, bem... Claro que não é só na medicina, em outras pontas tecnológicas é o mesmo caso. Ou alguém aí tem dúvida que já existem soluções para a substituição do petróleo à décadas? Ih, mas hoje esse artigoleiro está mesmo cheio de paranóias. Quem sabe. Talvez daqui a 40 anos possamos saber, assim como essa imagem japonesa nos mostrou sua perspectiva de realidade.

E se fossemos agora, neste fim de 2009, montar uma imagem de um momento 40 anos mais velho, que cara ele teria? Será que ele se pareceria como a imagem japonesa, mais aperfeiçoada, com computadores com cara de Steve Jobs, ou será que iremos para o lado contrário? Será mesmo que nossa meta será a evolução tecnológica, avanços, inovações? Ou teremos um novo ciclo, ou melhor, o retorno de um velho conhecido ciclo... Será que nossa sede pela "evolução" não acabou ferindo o maior dos organismos vivos que conhecemos? E se isso realmente aconteceu, e ao que tudo indica já aconteceu, quais serão as consequências? Talvez, e apenas talvez, a evolução que se espera de Nós não seja bem à relativa a computadores, máquinas e outros brinquedos. Ou talvez também seja, mas que essa evolução não pudesse nos fazer esquecer das demais, e principalmente, essa evolucão permitisse que o nosso maior organismo vivo, e a única razão da nossa existência continuasse sem ferimentos.
Tarde demais? Ainda não sabemos. Mas esse organismo, o maior deles, a Terra, tem nos avisado. Ou comunicado. Ou avisou, não adiantou, e agora está nos comunicando, com no mínimo um grande desastre natural por semana, que talvez nosso próximo desafio seja bem mais simples e ao mesmo tempo bem mais complexo, do que criar máquinas e subir arranhacéus.


Nós da Terra podemos imaginar que desafio seria esse?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Cidade do Cristo.

Sacrilegious.

Nunca fui ao Rio. Sou brasileiro, moro no Brasil, e nunca fui ao Rio. Amo viajar. Viajo sempre que posso, conheço muitos lugares, tanto no Brasil quanto fora dele. Mas não conheço o Rio. O mundo todo vai ao Rio passear sob o olhar sereno do Cristo, o mundo todo se interessa pelo Rio, que é sim uma das cidades mais lindas do mundo. E eu nunca fui ao Rio. Inicia temporada de férias, termina temporada de férias, e eu vou deixando o Rio para depois. E deixo por um simples motivo: É das cidades mais bonitas, mas requer algum cuidado. Quem vai, geralmente volta dizendo que é tranquilo, que as notícias exageram, aquela coisa toda midiática para produzir notícia fresca (todos sabem que o que mais vende na mídia da informação é sangue)! Mas eu acabo ficando com aquela pontinha de desconfiança, acabo achando que requer sim algum (grande) cuidado. Como estamos falando de férias, não quero ter cuidados. Cuidado é exatamente o que eu quero evitar. Quero relaxar, ficar tranquilo, estou de férias! E o Rio fica para a próxima. Já estive a ponto de ir para o Rio várias vezes, mas outras opções mais "tranquilas" acabaram tendo a preferência "dessa vez". E o tempo vai passando, e eu ainda não conheço o Rio.

Agora as Olimpíadas vem ao Rio, já escrevi sobre isso, sobre como será interessante. E vai ser. Ou não? O Rio costuma ser a mais visada cidade brasileira. Quem manda é Brasília, quem tem dinheiro é São Paulo, mas o Rio é que é a vitrine do Brasil. Isso é quase que inegável. O mundo sabe do Rio. Então quando tem notícia relevante do Rio, o mundo fica sabendo, o mundo se interessa. E sendo uma sede olímpica, a vitrina aumenta. E muito. Nesta semana, o mundo todo e mais um pouco, soube que um helicóptero da polícia foi derrubado por traficantes. Eu conheço alguns europeus, e volta e meia recebo alguns aqui na ponta de baixo do Brasil. É claro que eles chegam preocupados, cheios de medo, colhendo informações, tendo o máximo cuidado. Tentamos sempre aliviar a imagem, mas sem os deixar relaxados demais. Mas aí, precisamos manter nossos cuidados diários, na hora de estacionar liga-se alarme, coloca-se tranca, e escolhemos o local que "se pode" estacionar. Então nossa tentativa de aliviar essa imagem se torna vã. Porque uma coisa tão banal para nós, brasileiros, como ter o carro roubado para eles é algo de alto impacto. E se isso é feito de arma em punho, aí já toma proporções que eles definitivamente ignoram e acabam ficando apavorados. Não é questão de imagem, é questão de que é verdade.

Então eu, acostumado a me cuidar o tempo todo, tentando me convencer a cada férias, que está no momento de ir ao Rio, falando com as pessoas que voltam de lá tranquilas (que sim, é a maioria), vou me convencendo, vou me convencendo, e aí vem uma questão que assim como o roubo de carros, é verdade: Um helicóptero é derrubado. Ora, só no Iraque, no Afeganistão e em guerra helicópteros são derrubados, e mesmo lá isso é notícia mundial. Mesmo durante a guerra do Iraque, era notícia quando um helicóptero era abatido. Então vamos imaginar o mundo recebendo essa notícia, o mundo que se impacta com um roubo de carro, recebendo uma informação que até em guerra é notícia, e da cidade dos Jogos Olímpicos...

Não vou colocar aqui imagens de helicópteros sendo derrubados, nem de fuzis e metralhadoras, nem de nada de negativo. Eu quero ver o Rio como ele é, a cidade maravilhosa. Quando eu for ao Rio, quero olhar o Cristo, e quero fazer isso sem me preocupar se meu bolso vai estar com ou sem carteira quando baixar o olhar. Quero poder ir tranquilo, de férias, a passeio, e não tendo todos os cuidados... É claro que o Rio não será visto por nós tão seguro como Zurich, talvez nem por nossos filhos ou netos. Mas quero ir ao Rio sem saber que um ônibus acabou de ser incendiado. Quero ir ao Rio sem saber que um helicóptero foi abatido! Quero tirar a mancha do meu currículo de viajante, de nunca ter ido ao Rio!

Alow Rio, quero te conhecer!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

FlashForward

2:17

Imaginem se o mundo inteiro apagasse. Todas as pessoas deste planeta desacordadas por exatos 2 minutos e 17 segundos. Aviões caindo, carros batendo, tudo, absolutamente tudo parado por 2 minutos e 17 segundos. Ao acordar, cada pessoa teria visto seu futuro, 6 meses adiante, pelos 2 minutos e 17 segundos.

Quais as possibilidades para o desfecho desse evento? E nem estou falando a nível mundial. Para cada pessoa. Imagine você vivendo esse fato. E na visão, nada. Apenas a escuridão... Estava dormindo? Ou... Imagine você se vendo ao lado de outra pessoa, que não é seu par... Imagine se a sua visão mostra alguém que você já perdeu, como seria? É claro que a dúvida de se realmente é futuro o que foi visto acontece, mas e se ela vai sendo derrubada por pequenas partes da visão que vão se confirmando? Você viveria sua vida como ela seria levada normalmente, ou a visão vai influenciar diretamente suas decisões? E se a visão mudar tudo, influenciar tudo e gerar um novo futuro? Um dos melhores filmes que já vi abordam com maestria essa questão, Efeito Borboleta.

Quando os visões começam a se complementar, alguém que você viu viu o mesmo que você, as suspeitas de que essa verdade relativa se confirmará vão ganhando força, ao mesmo tempo que direcionam as decisões para que isso aconteça. Neste seriado que começa prometendo muito, até por entrar no horário de Lost, é exatamente isso que acontece. E já no terceiro episódio, sabe-se que isso foi artificialmente provocado. Não teve uma causa natural. Então, possivelmente alguém manipulou isso. Então, alguém manipulou as visões para manipular o futuro. E se as pessoas influenciam suas decisões por acreditar que o inevitável irá acontecer, estamos frente a frente com a perda da maior responsabilidade do ser humano: O livre arbítrio.

Assim como os últimos grandes seriados da atualidade, Flashforward aborda por trás da ação toda, um tema extremamente forte, que na verdade enfrentamos todos os dias, mesmo sem saber. Ou alguém pensa que não somos testados todos os dias por esse tipo de jogo?


Então, o que você viu?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Os anéis do Brasil

Foi então, escolhido o Rio de Janeiro. Em 2016, o Rio será o palco da maior celebração do esporte mundial. É claro que um evento desse porte traz a tona mil e uma discussões, conceitos, opiniões. Sediar uma Olimpíada impacta no país todo e de todas as formas, e a maioria das pessoas acaba se posicionando a respeito.

Um dos primeiros pontos discutidos é referente as condições do país. Como um país com tantos problemas na área da saúde, da educação, com tanta pobreza se dispõe a bancar um evento desses? Pois bem, eu acho mesmo que temos sim que bancar. Se vai ser gasto X ou Y, não é isso que faz diferença em um país tão rico que joga tanto dinheiro fora com desvios, má aplicação e outras "cositas más" que conhecemos tão bem. Não é isso que vai arrumar a casa do nosso país. Pelo outro lado, sediar uma olimpíada pode nos ajudar em vários pontos que temos dificuldades. A começar pelo nosso marketing externo. Só vendemos um Brasil de carnaval, futebol, de morenas peladas e corrupção. Vendemos uma imagem de favelas e praias, e não sabemos fazer diferente disso. Talvez o mundo nos mostre como fazer isso. Talvez o mundo nos veja, nos conheça realmente (não, o mundo não conhece o Brasil, acreditem!) e nos mostre como devemos nos vender. Talvez o mundo nos compre, sem precisarmos nos vender. Quantas são as organizações que são compradas, e nem precisam saber se vender? Agora, um país toda vida roubado e diminuído tem a oportunidade de colocar os anéis do esporte. Cabe a nós aproveitarmos essa oportunidade que as circunstâncias criaram e cumprirmos a nossa obrigação. A obrigação de dar condições do mundo saber quem somos, e fazer valer a criatividade que é um dos grandes diferenciais do nosso povo multi-racial. Talvez seja a oportunidade de deixarmos um pouco de nos concentrar nos nossos problemas, e passemos a analisar mais as soluções. O mundo todo estará nos olhando, curioso com esse gigante adormecido que possui todas as riquezas mas alimenta todas as pobrezas.


Então que venham os anéis olímpicos, que chegue ao Brasil o maior evento esportivo do planeta. Que o mundo conheça não apenas o que burramente divulgamos, carnaval, futebol e favelas. Mas que conheça tudo mais que temos por aqui, e não é pouco. Infelizmente sem rumo, e sem um povo sério para fazer funcionar. E apesar disso temos muito, à oferecer, e a ensinar ao mundo, que os gigantes do planeta também não são tão bons assim. Que venham os anéis, e que a cidade maravilhosa seja maravilhosa, e faça o mundo reler seu conceito do Brasil.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O disjuntor e os três patetas

Foi lá no 302, naquele fabuloso primeiro ano de Capitolândia, que aprendi alguma coisa sobre instalações elétricas. Os personagens ainda eram o Cresponildo, o Gorducho e eu. O 302 era aquela residência caricata que já descrevi, mas ainda tinha algumas particularidades extras, que ainda vou contando...

Uma delas era o quadro de disjuntores do apartamento. Ele ficava atrás de um espelho todo cheio de estilo, talvez indiano, ou algo oriental não bem definido. Ele estava na lista mas não me lembro da origem dele, e nem do preço. Sim, existia uma lista, anexada ao contrato de aluguel, que citava cada item do apartamento (que era realmente mobiliado de cima a baixo), e informava o seu preço. Em dólar. Nunca esqueço das almofadinhas. 6 dólares cada. Esse item era caro. As pistolas árabes custavam em torno de 100 dólares, e confesso que quase "comprei" uma quando saímos. Mas lá estava o espelho. E atrás dele, aquilo... Um emaranhado de fios tão cretino que nem vou exemplificar visualmente agora, pois não cairia bem considerando minha profissão. O fato é que volta e meia esse monumento a segurança elétrica criava vontade própria. Se comunicava com a gente. Manda sinais de fumaça, sinais luminosos, e até sinais sonoros. Muito tranquilos, os dois estudantes de Eng Civil, o Gorducho e eu, administrávamos aquela entidade.

Em uma daquelas sexta-feiras, sempre muito movimentadas, a entiade quadro de disjuntores resolveu se manifestar de forma mais contundente. Emitiu sinais sonoros, luminosos e de fumaça. Todos ao mesmo tempo. E traduzindo elas com o protocolo de comunicação que desenvolvemos com a entidade concluímos: Este curto-circuito foi muito forte. Então nos pegamos literalmente de mala na mão, porque estávamos indo os três para a Interiorlândia. Não havia tempo de chamar um eletricista. Na verdade, se tivesse também não iríamos chamar. Mas também não havia tempo de conversermos a entidade a não queimar nossa casa. Então algum dos três genios, que não consigo lembrar qual foi, sugeriu: Desligamos a chave, e quando voltarmos domingo a noite, tentamos alguma coisa. Feito.

Viagem tranquila, 6 horas através da noite, para ficar menos de dois dias na Interiorlândia. No sabadão almoço de família reunida, conto feliz da vida da nossa perspicaz idéia de desligar tudo, eliminando assim o iminente risco de incendiar meio centro da Capitolândia. Então meu pai, que é do tipo quietão, mas quando fala ou é muito engraçado ou tem razão, pergunta: Desligaram é? Então imagino que tenham esvaziado a geladeira, porque na semana passada vocês levaram caixas e mais caixas de resfriados e congelados para lá...

Ops...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Chamas da cultura.

Bairrista.

Essa é uma das palavras preferidas de todo brasileiro ao se referir ao gaúcho. Sim, o gaúcho é bairrista. Alguns mais, outros menos. Mas isso tudo tem uma origem, e essa origem não é simplesmente uma "personalidade coletiva" que o povo do Rio Grande do Sul adotou. Essa origem tem raízes profundas, ligadas à cultura de um "povo forte, aguerrido e bravo". Escrevi algum tempo atrás um artigo que falava das consequências de o povo brasileiro não ter precisado lutar por sua bandeira. Pois o gaúcho lutou. Lutou 10 anos contra o império. Não foi pela independência do estado, que continua brasileiro. Mas calejou nosso povo, o único que canta com orgulho seu hino em estádios de futebol, formaturas e em vários outros eventos. O Rio Grande tem orgulho. Tem uma cultura forte, brava, uma cultura robusta que permeia, que se espalha por outros lugares. O gaúcho leva a cuia e sua erva mate para onde for. Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso... Não interessa o local. Onde tem um gaúcho, tem uma roda de chimarrão. Onde tem gaúcho, tem orgulho do Rio Grande.

20 de setembro.

20 de setembro é o dia mais importante para o Rio Grande do Sul e seu povo. Neste dia, em 1835, foi iniciada a Revolução Farroupilha. Neste dia começou uma guerra de 10 anos, uma guerra que marca definitivamente a personalidade do povo gaúcho. De uma maneira ou outra, praticamente todo o estado se envolve nas comemorações da Semana Farroupilha, que é muito mais do que o marco de uma guerra. É uma celebração à uma das mais belas e fortes culturas regionais do Brasil. É semana de botar a bombacha, de dançar chula e cortejar a prenda. E mesmo quem não se envolve tanto assim, como eu, se emociona com a função farroupilha. Eu nem tenho bombacha, como a maioria dos gaúchos também não têm. Mas não é só isso que forma nossa cultura, vestir o traje oficial. Ter ou não ter a bombacha não é o mais importante. Saber o que significa tudo isso sim é que é importante. "Honrar a bombacha" sim é que é importante. Defender nossas tradições é que é importante. No dia 20 de setembro, o que importa é poder dizer: "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra".

O hino do Rio Grande por si só é uma amostra e uma bela tradução do espírito gaúcho. E mais do que uma letra fantástica e uma melodia, o hino do Rio Grande tem o peso das nossas espadas. Das nossas lanças farroupilhas. O hino do Rio Grande não é de gaveta. Ele está presente no dia a dia do povo gaúcho. É um hino ao estado, mas também é uma demonstração de força, de garra. É uma homenagem cantada aos gaúchos que construíram a nossa história.





Por isso tudo, dizer que o gaúcho é bairrista, assim, gratuitamente, não é uma posição coerente. Deve-se conhecer a história. O contexto. Deve-se saber como é viver no Rio Grande, longe demais das decisões do país, apesar de ter doado tantos líderes e ter uma participação política tão forte nesse imenso país. E se o Rio Grande é tão bairrista assim, porque elegeria uma governadora paulista?

Porém, se eu fosse bairrista, eu diria: Ora, uma paulista acendendo a Chama Crioula? Só podia acabar em chamas!


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A onda.

Autocracia.

Palavra mãe dos regimes totalitários, autocracia literalmente significa governo por si próprio. Se traduz em um governo absoluto com poder ilimitado, e nem as monarquias chegam a esse estágio. Vamos reconhecer autocracia nos governos de Hitler e Stalin. Também Ivan, o terrível era um autocrata, inspirado no Império Bizantino.

Em uma aula sobre autocracia, o professor Wenger acaba criando uma discussão na turma sobre a possibilidade de o país (no caso a Alemanha) viver novamente uma situação como viveu com Hitler. Resolve então propor uma experiência de uma semana, duração do curso, onde a turma viveria no regime autocrático. Essa é a idéia do interessante filme A onda.

O filme é uma refilmagem de outra produção de mesmo nome de 1981, e uma adaptação do livro de Todd Strasser, baseado num acontecimento que ocorreu num colégio de Ensino Médio norte-americano em 1967. Na época, o professor de história William Ron Jones simulou um regime totalitário fascista, fundamentado em Força pela disciplina, força pela comunidade, força pela ação, força pelo orgulho. Assim como na nova leitura do cinema, os alunos acabaram levando a experiência a sério e um deles perdeu uma das mãos ao lidar com explosivos. Jones foi demitido, enquanto Wenger, no filme, enfrentará questões maiores...

Assim como aconteceu na Alemanha de Hitler (que vivia em crise econômica e em situação difícil após a derrota na 1° Guerra), os alunos foram envolvidos pela liderança focada em disciplina, na força do coletivo e orgulho. Alguns mais, outros menos. Vários alunos acabam obcecados pela "Onda", e o fanatismo acaba traduzido em atos de vandalismo e repressão aos que não aderiram a turma. É claro que os alunos com algum problema em casa, mais desmotivados ou infelizes acabam se engajando com mais afinco no projeto, assumindo isso como objetivo de vida. O professor desmancha as pequenas turmas do grupo, une alunos mais fortes com mais fracos equilibrando e homogeneizando o grupo anulando o individualismo. A Onda criou adesivos, pichou seu logo pela cidade, criou home page, saudação, tudo criado pelos próprios alunos.

Tudo acontece apenas durante a semana do curso, é fica bastante evidente o poder que as palavras podem exercer sobre uma pessoa. Inclusive abrindo mão de suas opiniões pessoais para participar de forma efetiva do grupo. Para pertencer ao grupo e participar do poder que ele representa. O fato de o filme ter sido baseado no acontecimento de 1967 é mais um indicativo de que A Onda não é apenas um objeto de ficção. O ser humano está sim permanentemente vulnerável a esse modelo de alienação, é claro que não nessas proporções. Mas quem ainda não viu um amigo mudar totalmente de comportamento para se adequar a turminha da moda? A gravidade não é a mesma, porém princípio é sim a mesma coisa.

Logo os simpatizantes começaram a aparecer, a Onda promoveu festas e quem ficava contra o movimento ou simplesmente não participava era excluído. É claro que todos acabavam tendo alguma vantagem pela força do conjunto, e isso dava ainda mais força ao movimento. Então chegou o momento em que os excessos promovidos pelo grupo começaram a repercutir mais forte, e o professor se deu conta que o projeto já tinha ido longe demais. Convoca então uma reunião, onde mostra a todos... (não, não vou contar o final do filme, afinal de contas, a Artigolândia não é uma autocracia!).

Related Posts with Thumbnails