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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Cidade do Cristo.

Sacrilegious.

Nunca fui ao Rio. Sou brasileiro, moro no Brasil, e nunca fui ao Rio. Amo viajar. Viajo sempre que posso, conheço muitos lugares, tanto no Brasil quanto fora dele. Mas não conheço o Rio. O mundo todo vai ao Rio passear sob o olhar sereno do Cristo, o mundo todo se interessa pelo Rio, que é sim uma das cidades mais lindas do mundo. E eu nunca fui ao Rio. Inicia temporada de férias, termina temporada de férias, e eu vou deixando o Rio para depois. E deixo por um simples motivo: É das cidades mais bonitas, mas requer algum cuidado. Quem vai, geralmente volta dizendo que é tranquilo, que as notícias exageram, aquela coisa toda midiática para produzir notícia fresca (todos sabem que o que mais vende na mídia da informação é sangue)! Mas eu acabo ficando com aquela pontinha de desconfiança, acabo achando que requer sim algum (grande) cuidado. Como estamos falando de férias, não quero ter cuidados. Cuidado é exatamente o que eu quero evitar. Quero relaxar, ficar tranquilo, estou de férias! E o Rio fica para a próxima. Já estive a ponto de ir para o Rio várias vezes, mas outras opções mais "tranquilas" acabaram tendo a preferência "dessa vez". E o tempo vai passando, e eu ainda não conheço o Rio.

Agora as Olimpíadas vem ao Rio, já escrevi sobre isso, sobre como será interessante. E vai ser. Ou não? O Rio costuma ser a mais visada cidade brasileira. Quem manda é Brasília, quem tem dinheiro é São Paulo, mas o Rio é que é a vitrine do Brasil. Isso é quase que inegável. O mundo sabe do Rio. Então quando tem notícia relevante do Rio, o mundo fica sabendo, o mundo se interessa. E sendo uma sede olímpica, a vitrina aumenta. E muito. Nesta semana, o mundo todo e mais um pouco, soube que um helicóptero da polícia foi derrubado por traficantes. Eu conheço alguns europeus, e volta e meia recebo alguns aqui na ponta de baixo do Brasil. É claro que eles chegam preocupados, cheios de medo, colhendo informações, tendo o máximo cuidado. Tentamos sempre aliviar a imagem, mas sem os deixar relaxados demais. Mas aí, precisamos manter nossos cuidados diários, na hora de estacionar liga-se alarme, coloca-se tranca, e escolhemos o local que "se pode" estacionar. Então nossa tentativa de aliviar essa imagem se torna vã. Porque uma coisa tão banal para nós, brasileiros, como ter o carro roubado para eles é algo de alto impacto. E se isso é feito de arma em punho, aí já toma proporções que eles definitivamente ignoram e acabam ficando apavorados. Não é questão de imagem, é questão de que é verdade.

Então eu, acostumado a me cuidar o tempo todo, tentando me convencer a cada férias, que está no momento de ir ao Rio, falando com as pessoas que voltam de lá tranquilas (que sim, é a maioria), vou me convencendo, vou me convencendo, e aí vem uma questão que assim como o roubo de carros, é verdade: Um helicóptero é derrubado. Ora, só no Iraque, no Afeganistão e em guerra helicópteros são derrubados, e mesmo lá isso é notícia mundial. Mesmo durante a guerra do Iraque, era notícia quando um helicóptero era abatido. Então vamos imaginar o mundo recebendo essa notícia, o mundo que se impacta com um roubo de carro, recebendo uma informação que até em guerra é notícia, e da cidade dos Jogos Olímpicos...

Não vou colocar aqui imagens de helicópteros sendo derrubados, nem de fuzis e metralhadoras, nem de nada de negativo. Eu quero ver o Rio como ele é, a cidade maravilhosa. Quando eu for ao Rio, quero olhar o Cristo, e quero fazer isso sem me preocupar se meu bolso vai estar com ou sem carteira quando baixar o olhar. Quero poder ir tranquilo, de férias, a passeio, e não tendo todos os cuidados... É claro que o Rio não será visto por nós tão seguro como Zurich, talvez nem por nossos filhos ou netos. Mas quero ir ao Rio sem saber que um ônibus acabou de ser incendiado. Quero ir ao Rio sem saber que um helicóptero foi abatido! Quero tirar a mancha do meu currículo de viajante, de nunca ter ido ao Rio!

Alow Rio, quero te conhecer!

Um comentário:

  1. Fantástico o texto - como sempre,aliás.
    Eu,que já estive várias vezes no Rio,fui com a mesma sensação que vc descreveu.O tempo todo,preocupada,atenta,com medo.
    Imagina que eu estava lá no reveillon de 1988,quando houve o naufrágio do Bateau Mouche.De volta ao hotel - que ficava perto da Marina da Glória - ambulâncias,polícia,o caos !Não sabia ainda o que tinha acontecido,mas dá para imaginar como fiquei,no meio daquilo tudo?
    Quando puder,sem dúvida,vá ao Rio:é adrenalina pura,compensada por aquelas paisagens indescritíveis e inesquecíveis!
    Em 2016,espero estar lá!!!

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