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domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre heróis e vilões

Um dos nomes de filme mais bacanas que vi até hoje foi: "Sobre Meninos e Lobos". É um nome simples, mas que manda um recado. Ele nos diz o assunto, e já o caracteriza em sua essência: o paradoxo. Além disso é um nome forte, provocativo, enfim. Mas eu gosto mesmo é do paradoxo. Hoje não vamos falar de meninos, nem de lobos. O assunto é outro paradoxo, heróis e vilões. Boa parte dos heróis tem seu lado negro, seu lado confuso, uma mente atormentada. Mas as pessoas não querem saber nadad disso. Só querem seus heróis, no mais alto grau de pureza.


Mas as pessoas também querem vilões. As vezes querem vilões mais do que querem os heróis. Claro, o vilão exige sentimentos mais fortes, queremos fritar o vilão, explodir ele. O vilão dá mais IBOPE do que o herói, sem dúvida. E uma das sociedades mais movidas a heróis da atualidade é justamente a mais poderosa da atualidade. Os americanos amam seus heróis. Os heróis americanos são diversos. Podem ser políticos emblemáticos (como o atual presidente), podem ser heróis de guerra, ou símbolos dos bons costumes. Chega a ser divertido observar essa necessidade americana, e tem um ótimo filme (que merece um artigo só para ele) que mostra uma boa dimensão desse necessidade americana. Dos seus símbolos de moral, bons costumes, e aquela ladainha toda pressionada pela sociedade pronta para explodir. "Beleza Americana" traz tudo isso. E agora a mídia se diverte com outro herói que virou vilão de um segundo para outro. A bola da vez não é qualquer um. Tiger Woods, um dos maiores jogadores de golfe da história, bom moço, exemplo típico de símbolo americano. Primeiro atleta bilionário da história, o "tigrão"do golfe se envolveu em um escândalo relacionado a amantes e viu seu bilionário castelo ruir. Perdeu patrocinadores, viu cancelado um projeto de condecoração no congresso americano, e foi massacrado pela mídia. O herói virou vilão imediatamente, largou o golfe "para se dedicar mais à família" e enfrenta a ira do povo conservador americano. A ira da mídia, que tem seu novo vilão vendedor de jornais, porque vilão vende mais, né? É claro que o cara não está certo colecionando amantes mundo afora, mas também não precisa passar de ídolo para inimigo número um da sociedade por cometer erros. E essa é a beleza americana, a hipocrisia dos certinhos. E aí que não é só dos americanos, é de todo o mundo, é de todos nós. Neste mundo maluco, onde ninguém resolve nada, onde somos liderados pela classe política (logo a menos confiável de todas as classes), neste mundo precisamos de heróis. Ou quem vai salvar o mundo em 2012? Queremos heróis. Mas não os queremos complexos, muito menos paradoxais. Queremos heróis perfeitos, modelos a prova de erros de conduta. Queremos. Não os temos, e nem os teremos. Mas é o que precisamos. E se não teremos, pelo menos queremos acreditar. E precisamos, até, acreditar.







Ninguém é herói o tempo todo. E talvez ninguém seja vilão o tempo todo. As vezes o herói é tão vilão quanto herói, ao mesmo tempo. As vezes é herói um tempo, e vilão em seguida. As vezes é menino, as vezes é lobo. E as vezes o menino aparece de dia, e o lobo durante a noite. E o mundo precisa dos dois. Um para bater, outro para ter fé.


We can be heroes, just for one day...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Enquanto isso, na sala de justiça...

Saudades eu tenho! Muitas saudades! Quando eu era bem pequeno, lá na Interiorlândia, um dos meus desenhos preferidos era a Liga da Justiça. Sim, sou do tempo que a gurizada tinha infância, brincava, via "filminhos"e até rodava de bikes pelas "pistinhas"da cidade. Então eu assistia a Liga da Justiça, desenho que reunia todos os super heróis daqueles inocentes tempos. Superman, Batman, Mulher Maravilha, Super Gêmeos e muitos, muitos outros. O desenho ia e voltava de um cenário para outro com uma chamada visual, sonora, e uma frase clássica, que nunca vou esquecer: "Enquanto isso, na Sala de Justiça..." e a cena ia para o quartel general dos super heróis. Lá eles traçavam suas estratégias, cada um com sua função, saiam e executavam o combinado e pronto, o mundo estava salvo! Que saudade dos Superamigos! Que saudade da Sala de Justiça! Que saudade da clássica frase... Porque eles não tinham interesses pessoais, ou da sua terra natal. O Batman não se preocupava em defender os interesses de Gotham City, nem o Superman de Kripton. Eles tinham uma só voz e um só interesse: Salvar o mundo!

E agora o mundo está em perigo. E logo no seu ponto mais crítico, o próprio planeta. No dia 18 de dezembro, está terminando a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que abrange 192 países. Os super heróis da nossa era, os que realmente mandam e determinam o futuro do mundo vão se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto. E é deles que dependemos. Eles estão lá, na Sala de Justiça, determinando o futuro do nosso planeta, portanto, o futuro da humanidade.

A grande questão sobre os nossos super heróis, é que eles não são superamigos. Nem entre eles, nem os países que eles representam, e o pior, não são superamigos da Terra. Então vai ser discutido muita coisa, e definido pouca coisa, e executado praticamente nada. Nada que realmente faça diferença. Porque eles são políticos, defendendo posições políticas individuais de seus países. Porque eles não estão defendendo o planeta. Estão defendendo seus interesses econômicos, e é por isso que nada vai acontecer. Hoje, com nossa evolução toda baseada em indústria e consumo sem grandes preocupações com o meio ambiente, cuidar do planeta é caro. Muito caro. E ninguém quer perder dinheiro. Dinheiro que não vai valer nada quando não tivermos mais planeta. Mas eles não acreditam nisso. E se acreditam, acham que não será agora, que viver isso é assunto pra um futuro distante, nem de seus filhos será. Os super heróis do nosso tempo não são heróis do planeta, eles lutam por interesses individuais, e após isso, se der para colaborar um pouco com o planeta, aí sim.

Então estão lá, todos eles, falando besteiras com discursos vazios, justificando sua falta de ação com mil desculpas e empecilhos, e nada acontecerá. A COP nem acabou, e eu já sei que nada irá mudar. E sei disso não porque tenho bola de cristal ou algo do tipo. Sei disso porque o conceito está equivocado. Ninguém foi para a Dinamarca salvar o planeta Terra. Todos foram para lá representar os interesses econômicos dos seus países. Pois bem. Azar deles, e infelizmente nosso também. Porque o planeta não conhece países, nem quem fez mais ou fez menos. A Terra vai cobrar a conta, e vai ser de todos. E aí, veremos muitos representantes de países, com bolsos cheios de dinheiro, em um mundo que o dinheiro mal serve como papel, e aí ficaremos todos com essa cara abaixo aí, olhando o mesmo que ele... Para nada! E o pior, não será sem saber o que fazer. Será com cara de sem ter o que fazer!




Saudades. Saudades da velha Sala de Justiça...

domingo, 13 de dezembro de 2009

E vai de cueca, e vai de meia...

Alguns anos atrás eu me incomodava. Juro que me incomodava. O sangue italiano subia, esbravejava, xingava, discursava... Depois, como nada ia fazer efeito algum, parava, me acalmava, e deixava para lá. As vezes registrava em algum artigo, aqui e ali. Mas o fato é que as coisas não mudaram. Ao contrário, as coisas pioravam. É na cueca, é na meia, sabe-se lá mais onde os vigaristas levam o dinheiro do povo para casa. O reino da falcatrua continua, os 300 picaretas com anel de doutor continuam, independente de quem está lá em cima. Entra P, saí D, é S e T, não importa a sigla. O dinheiro do povo vai embora.

É claro que tem maneiras divertidas de fazer isso. O que você prefere, ser roubado eletronicamente, com transferência lá para o paraíso suiço, ou alguma ilha com nome de passarinho, ou ver sua grana passear de cueca em cueca por aí? Será que os elásticos dessas cuecas são reforçados? O dinheiro é lavado depois? Lavado eu digo com água, né. Não a lavagem de dinheiro, a outra, que legaliza a grana suja. Não da saudade quando diziam: Tão lavando dinheiro! E você imaginava, opa, abriram uma boate, um puteiro, empresa de fachada, laranjas... Pois então, agora quando falam em lavagem de dinheiro, há de se ficar pensando se era aquela lavagem, ou se é na água mesmo, para tirar a nhaca da cueca. Ou da meia. Ou sei lá de onde o dinheiro tenha saído. Eu preciso ser sincero, não acredito mais em honestidade por aqui. E isso por algumas razões. A primeira delas é que essa situação corre o mundo. É uma condição humana de levar vantagem. Quando eu fico realmente muito alterado com alguma situação de roubalheira, eu imagino a seguinte cena: Homo sapiens sai para caçar. Mata uma capivara, corta um pedaço, bota no ombro e sai andando. Aí outro homo sapiens vê a cena, chega por trás, dá uma cajadada na cabeça do primeiro, e rouba o pedaço de capivara pronto. Então, quando quero me acalmar, penso que é da natureza humana passar o outro para trás. Daí me acalmo. Mas a segunda grande razão, a que me acalma mesmo, é olhar o povo. Esse povo sofrido, roubado, esse povo sem informação e tudo mais. Esse povo faz o que? Sim, porque pode ser sem informação, pode ser até analfabeto, mas se meter a mão no bolso do cara, ele vai saber. Ah vai! Então faz o que o povo quando a grana dele vai para a Suiça, ou dá uma banda na cueca alheia? Faz nada. Reelege os caras. Todos. Daí queremos cobrar o que? Se os caras fazem, e o povo coloca de volta? Vou eu ficar esquentando a cabeça? Não dá né! Então me acalmo. Agora, vamos combinar, meter a mão na grana, já até nem apavora mais ninguém, todos já estão anestesiados, e teve até uma pesquisa divulgada por aí, que relatava que mais de 70% da população poderia perdoar político que mete a mão... Mas na cueca? Na meia? Ora, por favor, vamos roubar com classe, já pensou se o Brasil acaba sendo o país onde lavar dinheiro significa água e sabão? Por favor senhores! Roubem com classe, respeitem o povo...



E já que o Brasil é criativo. E já que o Brasil é o país da bunda, alguem aí tem idéia de onde vai ser o próximo lugar que as crianças irão "colocar" o nosso dinheiro?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Churrasco no Maracanã?

No último domingo do campeonato, o futebol brasileiro viu de tudo. Viu time praticamente rebaixado sair do buraco, viu time que já comemorava título ficar fora do G4 (Libertadores), e viu churrasco no Maracanã. Mas o jogo era com o Grêmio, e o Flamengo ganhou, e foi campeão, então deu feijoada e não churrasco! Não é? Que nada, deu churrasco!

Em um desses caprichos da vida, o arqui-inimigo vermelho ficou na dependência do rival azul. E aí que o tricolor gaúcho ficou naquela situação em que se apresenta aquele sorriso maroto ao principal rival: Bah, no Maracanã lotado não tem como fazer churrasco de carioca... E a direção fala besteira, e jogador fala besteira, e acaba a gurizada tendo que resolver. Com medo de fritar titulares, e com mais medo ainda de ganhar o jogo, a direção tricolor manda para a cidade maravilhosa a gurizada olímpica. Com técnico (interino e promissor) com medo de levar uma sacola, e gurizada tranquila, o Grêmio entra em campo e assusta o Brasil todo. Vai para cima de um Flamengo todo borrado (como todos times que chegaram na ponta nesse campeonato), com medo de levar esse título. E tem gol, e é azul. E pela primeira vez na história colorados comemoram gol gremista enquanto a fanática torcida azul espragueja contra o próprio time. Eu sou do tempo que os colorados eram os maiores compradores de camisa do Brasil. Eles tinham camisas do Palmeiras, do Corinthians, do Ajax, do Nacional... Ora, nos bons tempos da década passada o Grêmio era o brutal time do sul que amassava os ricos clubes lá de cime. Ao Inter só restava secar, mero coadjuvante que era no cenário do futebol nacional. Que saudade daqueles tempos...

Dia 12 de dezembro 30 mil gremistas saudosos irão assistir ao poderoso time de 1995, aquele... A máquina tricolor que amassava seleção brasileira vestida de verde em pleno Palestra Itália, que tocava 5, que ganhava tudo que passava pela frente para desespero do país todo. E o país todo ficou esperando para ver, na "final"desse campeonato, se o Grêmio poderia cometer um crime parecido, com 85 mil pessoas assistindo ao vivo, e milhões na TV. Se fosse o time titular, que nunca perdeu em casa, e nunca ganhou fora (vamos deixar os Aflitos fora, afinal de contas, o palco da grande batalha não conta no mundo real...), não haveria chance. O Grêmio perderia e o Inter mais ainda. Mas era a gurizada. E guri é guri. Guri respeita essas coisas de trauma. Guri vai lá e toca horror, porque essa geração é assim mesmo. E a gurizada tocou terror, botou o Brasil todo de fraldas, inclusive a sua torcida. E no final, só não cometeu o crime porque sabia, mesmo que no subconsciente, que dar um brasileirão de graça para o Inter, era assinar a demissão no clube tricolor. Entregaram? Não. Não entregaram. Mas se o inverso fosse verdadeiro, e o Grêmio tivesse que ganhar do Mengo par ao Inter NÃO ser campeão... Ah se fosse assim, não tenho dúvidas... No mínimo aquele empate tinha permanecido. E tinha rolado churrasco no Maraca. Mas como a vida é bem caprichosa, o churrasco aconteceu de qualquer maneira.

Fiquei aliviado, fiquei feliz... Mas ainda assim fiquei com aquela sensação de ter dado uma de colorado... Deu a impressão de estar com a camisa do Flamengo, e aí o churrasco ficou sem sal...




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