Muitos anos atrás, chegou ao Brasil um modelo de programa de televisão que prometia. Prometia sucesso absoluto, no país que melhor faz novelas no mundo. Isso pela paixão que o Brasil devota às suas novelas, à sua audiência, e pelo fato de remeter a uma certa cumplicidade entre as novelas de ficção e um novo modelo, a novela da vida "real". Mas assim como as novelas, o reality show já chegava com um rótulo anunciado. Rótulo de programa sem cultura, rótulo de besteirol que nada acrescenta ao povo. Enfim, trucidado e desprezado pelos intelectuais do nosso país. Apesar das críticas, como era de se esperar, os realitys chegaram e venceram. São mania nacional e motivo de guerra entre emissoras, mas o melhor, mais bem produzido é e sempre foi o Big Brother Brasil. E um dos motivos que tornam o BBB tão especial frente aos demais realitys que circulam em várias emissoras pelo Brasil é seu apresentador. Pedro Bial, um jornalista respeitável, de carreira absolutamente impecável, topou esse desafio e se tornou a face desse programa.
Durante 3 meses, Bial não só apresenta, como também de certa forma orquestra, aponta e apara, conta e desconta, Bial toma conta da casa mais vigiada do Brasil. Eu sou, e sempre fui espectador assumido do BBB, e perdi apenas uma das 10 edições realizadas até hoje. Por ironia do destino, perdi a mais temperada, como dizem, a 8. Mas neste ano resolvi ousar. Transferi meu vício que ia e vinha de escrever em blog para o Big Brother Brasil, e por lá estive nos últimos 3 meses. Isso me custou bem mais do que previ, mas me retornou muito mais do que imaginei. Escrever, mesmo que despretensiosamente sobre um tema de tanto apelo popular multiplicou por 100 o número de leitores. Trouxe amigos, trouxe elogios e críticas, mas principalmente, relembrou o que a gente muitas vezes esquece: A repercussão dos nossos atos. Quando se escreve para um público 100 vezes maior, é preciso saber das consequências disso, e estar pronto para ser julgado por cada palavra escrita.
Então imaginem agora quem teve a coragem de entrar na casa do BBB. Imaginem cada palavra dita, repercutida em TV aberta, gravada, transmitida ao vivo, sem interrupções e praticamente sem cortes em PPV. Cada besteira falada, cada desconhecimento mal colocado terminando em jornais, em mídia virtual. Tudo repercute, tudo gera polêmica, amplificado por um programa cujo objetivo é justamente alavancar audiência baseado em polêmica. Neste último sábado, Bial, o regente do Big Brother Brasil precisou lembrar a toda a gigantesca audiência deste programa, e a todas às torcidas envolvidas, muitas vezes fanáticas e organizadas, que BBB é entretenimento, que é um programa que altera o retrato de cada um, que é um programa que transforma o participante em caricatura. Tal foi a repercussão do duelo central do programa, travado entre os protagnonistas e entendido aqui fora como uma guerra entre homossexuais e heterossexuais, que Bial precisou intervir. Encerrado o duelo, Bial pediu aos participantes que se cumprimentassem como guerreiros pós combate, trazendo de volta para a relidade tudo que foi turbinado e amplificado pelas mídias Brasil afora. Em discurso emocionante, Bial deu contorno de caricatura às impressionantes repercussões que o programa originou. Em poucas mas emocionantes palavras, Bial tentou retirar, ou diminuir a histeria coletiva das repercussões amplificadas, foi genial, Bial.
E nesta interessante experiência de "blogar" BBB, eu entendi e lembrei do que sempre acabamos esquecendo: A força do que falamos, a força de como agimos, e a repercussão de cada movimento de nossas vidas. O universo deles, BBBs, enquanto no ar é o Brasil, nesta edição este universo chegou até mesmo a sair do Brasil, mas e na nossa vida, qual é o nosso universo? O quanto podemos repercutir? Nós, cidadãos comuns deste Brasil, não temos repercussão em nível nacional. Mas temos nossa vida e nosso universo pessoal. E nele, e para ele, tudo o que falamos e fazemos tem a mesma dimensão do Brasil para um BBB. Mas eles, contam com Bial. Nós, só temos nós mesmos, para percebermos como repercute tudo o que fazemos...