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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

2012

Então, que Nós da Terra agora estamos todos preocupados. Após anos, décadas de avisos e mais avisos que ficaram no vazio, agora resolvemos nos preocupar. E é tudo culpa do cinema. Esse cinema... Caramba, esse cinema é fogo! Resolveu colocar pânico no mundo todo. Filme após filme, o cinema vem plantando o terror na população. Seja com "ficção", seja com documentários de previsões de Nostradamus, ou com o calendário Inca, ou com a posição das pirâmides do Egito... E não é que todos dizem a mesma coisa? E aí vem o cinema, e pronto. Planta o medo.

E os piadistas vão a farra. Tiram onda dos "profetas do apocalipse", dizem que não pagarão mais dívidas por que o mundo vai acabar... E 2012 é prato cheio para todo mundo. Veículos de comunicação, programas de humor, tudo é notícia e assunto. É o tema da moda. Mas nosso cinema, apesar de colocar o terror em todo mundo, até que fez a lição de casa. 2012, o filme, é bastante fiel às previsões que andam soltas por aí já a bastante tempo. Bastante mesmo, não aninhos ou décadas. Bastante mesmo. E veio o mar, e veio vulcão, e tremeu tudo e afundou quase tudo. Nem os monges tibetanos escaparam, todo mundo engoliu sal. Ou terra. Ou nem nada viu. Mas o cinema fez a lição de casa. Não inventou. Seguiu a receita. Não aniquilou o mundo, nem foi bonzinho demais. Sobrou o que sobrou, o que era possível sobrar, e que se reconstrua tudo depois que a turma que escapou puder sair da Arca de Noé Volume II. Mais um pouco poderíamos creditar à Nostradamus o roteiro do filme 2012.
As imagens são fascinantes, impactantes, assustadoras e rigorosamente previsíveis dentro do nosso quadro. Quadro? É, nosso quadro de aquecimento global. Ih, lá vem outro profeta do apocalipse. É. É prato cheio para os piadistas. Curiosamente, no dia que fui assistir a esse grande enlatado americano, a Capitolândia vivia uma noite quase rotineira nos últimos tempos. Se formava uma tempestade daquelas meio imprevisíveis, onde talvez metade do país apague, talvez metade das grandes cidades não possam usar carros para andar nas ruas, ou então, uma chuva de árvores ameaça os carros novos comprados com redução do IPI este ano. Por sorte naquela noite nem choveu mais de 50mm, mas o arroio que separa minha casa do cinema estava com água pelo ombro. Não chegou no pescoço, mas já estava no ombro.

Aí, que no outro dia fui trabalhar, era um dia bonito e quente. Mas assim, um quente meio estranho, do tipo sensação térmica de 40 graus, estranho para essa época do ano aqui na Capitolândia. E o meio dia virou meia noite. Tudo escuro, árvores voando, o fundamental ar condicionado deixando de funcionar (eles precisam inventar algum que não precise de energia elétrica...), o trânsito daquele jeito, né. Deu saudade. Deu saudade do tempo em que eu ia para o cinema ver esse tipo de filme apocalíptico e só lembrava dele na mesa do almoço, quando quem viu abria a sessão comentários de cinema. Agora não mais. Agora eu vi o filme, e lembrei dele quando ia para casa, em meio ao temporal que se ocorresse só as vezes seria normal, mas como aqui já é semanal... E lembrei dele também no outro dia, e não na mesa do almoço com o pessoal, lembrei quando as nuvens fecharam o meio dia, também com ocorrência já semanal... E aí que já me imaginei correndo em direção ao sino. O sino, aquele do monge tibetano que toca de colina em colina, alertando à todos o que de nada adianta ser alertado. Até porque, né... O alerta já vem de tanto tempo, e não foi ouvido. Porque então teria algum sentido ele ser ouvido agora? Para quem já viu o filme, o negócio é mesmo ir guardando 1 bilhão de euros, certo? Para quem não viu, ou acha um pouco complicado conseguir 1 bilhão de euros, pode começar a pedir carona em direção às montanhas chinesas...








Ah, esqueci de comentar. Destas imagens aqui publicadas, 3 delas não foram retiradas do filme 2012. Foram retiradas do filme da nossa vida. São reais, aconteceram, e como vocês mesmo podem concluir, em nada deixam devendo ao cinema.

Esse cinema né, fica botando terror nas pessoas, tsc, tsc, tsc...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando crescer, quero ser como Morgan Freeman

Uma noite dessas, enquanto encarava uma pizza jogado no sofá, estava olhando para a TV naquele momento: "Não estou prestando atenção, apenas faça barulho e se movimente para distrair minha mente..." Então uma curiosidade do cinema me chamou atenção: Um programa sobre personalidades do cinema trazia um especial sobre o ator Morgan Freeman. Ele começou muito novo em produções da Broadway, fez cinema desde cedo, mas chegou realmente ao topo do cinema já com seus 50 anos. Claro que todos conhecem o trabalho do Morgan, e muitos dos filmes que ele participou. Mas não foi a história da vida dele que me chamou a atenção.

No decorrer do programa, um ator mais novo deu um depoimento sobre o ator de "Todo Poderoso" que me fez sair da zona de conforto do olhar sem intenção e objetivo para a TV, e prestar atenção no assunto. Disse ele algo mais ou menos assim: "Foi incrivelmente intimidador trabalhar com o Morgan, e não por alguma postura de prepotência ou arrogância. É justamente pelo contrário. A postura dele é tão sóbria, serena, e ele uma pessoa tão tranquila de se trabalhar mesmo com sua importância... Que intimida!"

Isso tem absolutamente tudo a ver com estilo de vida, estilo de liderança no ambiente corporativo ou mesmo no posicionamento em grupos de amigos ou familiares. Em um momento em que boa parte dos líderes se usam do poder, de barganhas excusas, de promessas e outros fatores para manter seus seguidores alinhados, ouvir algo desse tipo é uma nuvem branca expulsando a tempestade. Um cara do porte que Morgan Freeman tem hoje, e logo nesse mundo de estrelas que normalmente tem a necessidade pessoal de brilhar mais do que as outras, ter um depoimento como o citado acima é a prova que nem tudo está perdido. Ainda existem pessoas do bem na multidão dos poderosos. Ainda existem pessoas mais interessadas em ajudar um todo a vencer do que se promover pessoalmente custe o que custar. E estamos falando do cinema, um dos grandes depósitos da prepotência humana. Quando tento projetar no meu modo de levar a vida, seja ela no profissional ou familiar, vejo que meu caminho está certo. Ainda longo, mas na direção correta. Não existem pessoas na escadaria que eu persigo no meu crescimento. Existem apenas desafios. Isso é bom. Boa parte não difere desafios e pessoas no seu caminho. Mas a maneira como ainda trabalho com os desafios podia ser mais leve, mais tolerante, mais conciliadora. Uma notícia boa portanto, na minha reflexão acerca do depoimento que tanto me chamou atenção, e uma constatação que é sabida, mas por vezes esquecida, de ser mais leve. De viver mais leve, e de tratar as pessoas e as questões que as envolvem com mais tranquilidade e serenidade. Não basta ser bom, é preciso ter muita paciência, muito jogo de cintura, porém sem deixar que a linha entre ser bom e ser bobo seja ultrapassada.Neste mundo cada vez mais individual, cada vez mais acelerado, onde as pessoas confundem outras pessoas com os obstáculos e desafios pessoais, precisaríamos de mais personalidades como Morgan Freeman. Uma estrela que brilha porque tem brilho simplesmente. Não porque ofusca o que está próximo.


Nosso desafio é sempre se aprimorar. Nossa obrigação é servir ao bem comum, é fazer o bem, é buscar o que é bom. A nossa busca pelo aperfeiçoamento pessoal é constante e nossa total responsabilidade, ou abriremos mão da evolução que nos cabe. E quando crescer, eu quero ser como Morgan Freeman!





terça-feira, 10 de novembro de 2009

A queda.


Quando se faz uso da expressão: "A queda", a imaginação de uma pessoa corre para dois acontecimentos históricos, e curiosamente os dois relacionados a Alemanha. E mais que isso, os dois relacionados entre si. "A queda" ilustra a derrocada de Adolf Hitler, e também remete com a mesma intensidade a lembrança da queda do muro de Berlim. Uma curiosidade interessante, para dois eventos de primeira grandeza na nossa história.

No dia 09 de novembro, foi celebrado com toda a pompa e circunstância que o evento merece, os 20 anos da queda do muro. Um absurdo acontecia nas guerras (que já são absurdas), de dividir o território derrotado entre os vencedores. Dizendo que as pessoas que fazem parte do país derrotado pertencem agora a outras pessoas que nada tem a ver com eles, os vencedores que estavam melhor armados, tomavam posse do território, e do povo. Isso aconteceu na Alemanha após a Segunda Grande Guerra. Inicialmente dividida em 4 partes, Berlim acabou dividida por um muro, construído do dia para a noite, totalmente policiado, que parecia estar dividindo inimigos mortais. Pois estava dividindo a mesma pátria, as mesmas famílias, numa das atitudes mais ignorantes da história em pról de interesses de governos. Uma agressão desproposital, sem nenhuma chance de ser explicada em momento algum da história da humanidade. Com valas, cercas elétricas, mais de 300 torres de vigilância, o muro era praticamente um presídio de segurança máxima, separando o mesmo povo. É claro que um absurdo dessa magnitude um dia cairia, e assim caiu, juntamente com o sonho ideológico do comunismo, dos países isolados, pseudo auto-suficientes, que de tanta prepotência terminaram isolados, falidos e trazendo o povo infeliz, preso no seu próprio território, impedido de saber, de viver, de viajar, de conhecer, e até mesmo de ser alguém diferente de um boneco de chumbo.

Ainda bem que tudo isso acabou, pelo menos nas questões físicas dessa divisão. Nas físicas, porque as gerações que viveram todo esse drama ainda circulam pelas terras alemãs agora sem muros de concreto, mas que talvez ainda tenham suas divisões... Por razões familiares, tenho contatos na Alemanha, e de certa forma consigo absorver alguns pontos da cultura atual, pós muro. Pós absurdo.
Um dos grandes eventos da celebração dos 20 anos sem muro, foi o show do U2, banda que o próprio nome sugere, tem toda uma sustentação e habilidade política, humanitária e de justiça nas entrelinhas, nas linhas, e nas ações do Bono. E o show foi criticado, por ter uma "cerquinha", que separava quem tinha ingresso (distribuído gratuitamente), de quem não tinha. Isso é algo que todo show precisa, por questões de organização e segurança. Mas psicologicamente teve um peso, principalmente pela fragilidade que ainda existe por lá, resultado daquela violência absurda da divisão de um mesmo povo.
A questão que abordei algumas vezes com os alemães que conheço, que já são da minha geração, e não participaram tão intensamente daquele absurdo todo, é que se a barreira realmente caiu. A física sim, dizem eles. Mas, a turma que foi submetida ao comunismo ainda sofre com os olhares silenciosos, e sim, ainda há diferença. Mesmo que nunca falada, mesmo que nunca exposta, o que pude perceber é que isso existe, e que talvez ainda perdure por algumas gerações.

Mesmo para a Alemanha, esse impressionante país que se reconstrói e volta mais forte cada vez que é destruído (e já foi por duas vezes), essa tarefa é ardua. O povo alemão das novas gerações já não tem aquele semblante pesado, aquela face sisuda que tanto tempo o caracterizou. As novas gerações são tão soltas quanto nós aqui, malucos brasileiros que não conhecem dificuldades (além dos políticos e da violência). Mas essa carga toda, esse muro invisível e silencioso ainda existe, por mais que seja negada a sua existência.

Frente às dificuldades que eles viveram, são até sorridentes demais. Concluo isso se tento me colocar no lugar deles, na Alemanha daqueles tempos. Pessoas com picaretas e martelos, abrindo caminho para sua própria vida, sua própria liberdade, para o direito fundamental e ir e vir, foi o que se viu no fim daqueles sombrios tempos. Hoje, já com o muro ao chão e um país rico e desenvolvido aquela agressão ainda tem reflexos, e assim será até que essas lembranças façam parte dos livros de história, assim será até quando as testemunhas e participantes daquilo tudo sejam lembradas como heróis ou anti-heróis, por que tem coisas que só o tempo resolve. Derrubar o muro era somente uma parte da mudança. Era um marco, para que as feridas pudessem começar a fechar. Agora sem muro, a cura está a caminho. Mas lentamente. E que não esqueça o mundo de tudo isso. Que não esqueça o que acontece quando um país resolve que não precisa de mais ninguém, que todos os outros são inimigos. Que essa lição, esse drama que a Alemanha viveu e ainda vive não se repita. Por mais rápido que muros e cercas possam ser derrubados, as consequências humanas disso perduram por gerações. E o que mais assusta, é ver uns e outros, bem aqui pertinho do nosso verde e amarelo, criando universos que muito se assemelham daquele absurdo todo...



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